Como aumentar a resiliência a riscos futuros? Identificando-os desde já
Riscos e ResiliênciaArtigo22 de fevereiro de 2021
Em 2006, o Global Risks Report, do Fórum Económico Mundial (FEM) alertava para a possibilidade de o mundo enfrentar uma pandemia, com efeitos adversos no turismo, cadeias de abastecimento e comércio mundial. Quinze anos depois deste alerta, as previsões concretizaram-se. Apesar dos avisos, a realidade da COVID-19 mostrou que o mundo não estava devidamente preparado para lidar com um vírus à escala global. À medida que são dados passos na recuperação desta crise é importante aprendermos com as lições do passado para prepararmos melhor o futuro. Como? Identificando os riscos futuros, delineando uma estratégia de ação para mitigar o impacto dessas ameaças e, assim, aumentar a resiliência coletiva. O Global Risks Report deste ano avança com algumas pistas.
A precisão dos alertas realizados anualmente pelo Global Risks Report faz com que este relatório seja um documento-chave para os líderes mundiais, já que identifica os principais riscos que o mundo enfrenta nas mais diversas áreas, ao mesmo tempo que aponta pistas sobre como os governos, empresas e comunidades poderão prevenir e lidar com essas ameaças. Para esse efeito, o Fórum Económico Mundial, realiza um inquérito a mais de 800 especialistas mundiais.
A última edição do estudo – Global Risks Report 2021 – foi divulgada em janeiro. Sem surpresa, a COVID-19 ocupa uma parte substancial do documento. "[A pandemia] ameaça retroceder anos de progresso feito na redução da pobreza e no combate da desigualdade e enfraquecer a coesão social e a cooperação global. A perda de postos de trabalho; a existência de uma maior divisão digital; as ruturas nas interações sociais e as mudanças abruptas nos mercados podem conduzir a consequências negativas e a oportunidades perdidas para uma grande parte da população global", pode ler-se no Sumário Executivo do documento.
Dado o contexto em que vivemos, o relatório explora em profundidade os riscos e barreiras ao progresso individual e coletivo resultantes da pandemia (e para os quais é preciso preparar respostas desde já), incluindo duas mensagens-chave:
- Os "pandemials” estão no epicentro dos riscos futuros associados à pandemia – esta é a geração global de jovens e adultos (com idades entre os 15 e os 24 anos) que, ao viver a sua segunda crise global, se arrisca a perder todas as oportunidades geradas na próxima década. Por um lado, pelas perturbações ao ensino causadas por confinamentos e suspensão de aulas, que podem impactar o futuro percurso académico e profissional. Por outro lado, pelas barreiras à entrada no mercado de trabalho causadas pelo contexto económico e tecnológico. A resposta a esta ameaça a uma geração inteira tem de começar a ser construída desde já, entre governos, escolas, famílias e empresas.
- Mesmo no atual contexto há oportunidades que podem ser criadas e aproveitadas pelas empresas e profissionais, desde que se mitiguem desigualdades e vulnerabilidades sociais. A aceleração da transformação digital, por exemplo, poderá gerar 100 milhões de novos postos de trabalho até 2025. Mas transformar estes empregos potenciais numa oportunidade para todos implica estratégias eficazes de combate à desigualdade digital e promoção da requalificação profissional. Caso contrário, apenas se aprofundarão fossos económicos, geracionais, regionais e digitais, concretizando um risco elevado de desigualdade social.
Doenças infeciosas e clima no top dos maiores riscos futuros
Os riscos futuros vão mais longe do que os efeitos imediatos e a longo prazo da pandemia. O FEM alerta, no Global Risks Report 2021, que o primeiro passo para minimizar o seu impacto é identificá-los. A encabeçar a lista de preocupações com maior probabilidade de acontecer nos próximos 10 anos estão os riscos ambientais e climáticos, em linha com a edição 2020 do relatório
Os episódios climáticos extremos, o falhanço na ação climática e os danos ambientais de causa humana foram apontados como os riscos mais prováveis. O relatório assinala também os riscos futuros que podem vir a ter um maior impacto – e que não são necessariamente os mais prováveis. Neste ranking, as doenças infeciosas lideram a lista, seguidas pelo risco de fracasso no combate à ação climática e pela ameaça que representam as armas de destruição maciça.
Top 10
|
Top 10
|
1. Clima extremo 2. Fracasso na ação climática 3. Danos ambientais causados pela humanidade 4. Doenças infeciosas 5. Perda da biodiversidade 6. Concentração do poder digital 7. Desigualdade digital 8. Quebra das relações entre Estados 9. Fracasso da cibersegurança 10. Crises de subsistência |
1. Doenças infeciosas 2. Fracasso na ação climática 3. Armas de destruição em massa 4. Perda da biodiversidade 5. Crises de recursos naturais 6. Danos ambientais causados pela humanidade 7. Crises de subsistência 8. Clima extremo 9. Crises financeiras 10. Colapso das Infraestruturas de TI |
Mas, nem todos os riscos são uma ameaça no mesmo horizonte temporal. De acordo com oGlobal Risks Report 2021, os riscos podem ser divididos segundo uma linha temporal de curto, médio e longo prazo:
- Riscos a curto prazo (2 anos): doenças infeciosas, eventos climáticos extremos, aspetos sociais relacionados com as vidas humanas e os seus meios de subsistência, bem como riscos tecnológicos (ex: falhas de cibersegurança e desigualdade digital).
- Riscos a médio prazo (2 a 5 anos): riscos económicos (com destaque para a possibilidade de explosão de uma bolha de ativos, a existência de uma nova crise de dívida; um novo choque nos preços das matérias-primas e a instabilidade geral dos preços) e risco de colapso nas infraestruturas tecnológicas.
- Riscos a longo prazo (5 a 10 anos): riscos geopolíticos (ex: armas de destruição maciça) e riscos ambientais, decorrentes da perda de biodiversidade e da escassez de recursos naturais.
Aumentar a resiliência a riscos futuros
O reconhecimento dos riscos futuros mais prováveis e de maior impacto – assim como a sua distribuição em linha temporal – permite às organizações, sociedade civil e Estados avaliar a sua exposição às preocupações identificadas pelos inquiridos. É como uma bússola que ajuda a orientar sistemas de gestão de risco, estratégias de resposta (a curto, médio e longo prazo) e levantamento de recursos necessários para mitigar vulnerabilidades, ganhando resiliência.
Segundo o Global Risks Report 2021 a evolução pós-pandemia passa por aqui: mitigar as consequências dos riscos futuros e construir, com urgência, novos sistemas económicos e sociais, mais resilientes e sustentáveis, aproveitando até as lições aprendidas na resposta a esta pandemia. Neste sentido, o relatório apresenta quatro oportunidades de melhoria para aumentar a resiliência global:
- Analisar e dar resposta aos riscos de forma holística;
- Incentivar entidades e líderes que se destacam na gestão do risco e que possam encorajar as lideranças nacionais e a cooperação internacional;
- Melhorar os riscos comunicacionais e combater a desinformação;
- Explorar novas formas de parcerias público-privadas.
Com esta abordagem, o Global Risks Report 2021 – que conta com a parceria estratégica do Grupo Zurich, da Marsh McLennan e do SK Group – contribui para melhorar a capacidade dos líderes na resposta aos desafios do futuro, identificando não só os principais riscos que o mundo enfrenta, mas também os caminhos para reduzir as desigualdades sociais, digitais e económicas, aumentar a resiliência e proteger o planeta. Tudo para que, mesmo no atual contexto de incerteza, estejamos todos a trabalhar, globalmente, para um futuro de oportunidades, mais protegido, saudável e coeso.