A casa dos seus sonhos pode estar prestes a desaparecer debaixo de água?
SustentabilidadeArtigo13 de outubro de 2020
Com o aumento dos níveis do mar, as tempestades vão sobrecarregar as defesas contra inundações nas zonas costeiras, o que é uma preocupação a longo prazo para os proprietários e para as empresas localizadas nestas áreas.
Quando se reformar, sonha em mudar-se para a costa e viver junto ao mar? Existe alguma aldeia ou cidade costeira que tenha visitado ao longo dos anos, para comer peixe e desfrutar das esplanadas à beira-mar, e para onde gostava de se mudar um dia, no futuro? Porque, com o aumento dos níveis do mar, algumas das zonas costeiras onde atualmente vivem pessoas podem vir a ficar submersas no futuro. Em alguns locais isso vai acontecer mais rapidamente do que noutros, mas de acordo com um estudo conduzido por mais de 100 especialistas, o nível das águas do mar pode subir mais de um metro até 2100.
Esse estudo - Estimativa da subida média global do nível do mar e respetivas incertezas para 2100 e 2300 com base numa investigação de especialistas (2020) - revela que, caso se confirmem os piores cenários das alterações climáticas, centenas de milhões de pessoas podem ficar com as suas casas submersas. Mas não é só o aquecimento global e o degelo das calotas polares que estão a afetar os níveis do mar – estes dois fatores constituem apenas uma parte de um problema muito mais vasto. Ou seja, não é apenas o nível do mar que está a subir, a terra também se está a afundar no mar.
Porquê? Em parte, devido àquilo que estamos a construir sobre ela. As zonas costeiras, especialmente naquelas em que existe um elevado nível de desenvolvimento, estão de facto a afundar-se e isso deve-se principalmente à urbanização. Estamos a construir as infraestruturas para as cidades, a extrair as águas subterrâneas e a interromper os processos naturais que ocorrem há milhares de anos. Tudo isso contribui para aumentar o problema.
Estas tendências estão a gerar um enorme impacto nas cidades costeiras de todo o mundo. Banguecoque está particularmente em risco, assim como outras grandes cidades, desde Lagos na Nigéria até Daca no Bangladesh. A capital indonésia, Jacarta, uma megacidade de 30 milhões de pessoas, está a afundar-se no mar a tal velocidade que as autoridades vão deslocar os gabinetes governamentais. A erosão costeira na Nova Gales do Sul está a ameaçar as casas de luxo em frente à praia e é expectável que isso se agrave com a subida contínua dos níveis do mar. As medidas habitualmente adotadas para proteger as casas nestas situações, como a construção de quebra-mares, têm impacto limitado.
As comunidades falam em erguer quebra-mares para proteger as praias e impedir que estas casas desabem no mar, mas trata-se apenas de uma medida temporária, porque o problema é dinâmico. Quando o nível dos mares subir, a velocidade de erosão em diferentes partes do mundo, ou diferentes partes da costa, será diferente. Ao construir um quebra-mar num local, estamos a desviar o problema para outra zona da costa.
As soluções que impedem a erosão costeira, que não se limitam a afastar o problema para longe ou para outras comunidades, podem incluir restringir a atividade humana, limitar a urbanização em algumas áreas, levar a conservação da água mais a sério e melhorar o solo, mas são dispendiosas.
As áreas costeiras europeias também estão em risco devido à subida dos níveis do mar. Partes da Europa e do Reino Unido podem igualmente ficar submersas. Mas isso não se deve apenas ao aumento do nível do mar, pois as alterações climáticas também aumentam o risco de eventos atmosféricos extremos e agravam as inundações sazonais.
Num contexto de subida dos níveis do mar, as tempestades irão sobrecarregar cada vez mais as defesas contra inundações nas zonas costeiras, o que é um motivo de enorme preocupação a longo prazo para os proprietários e para as empresas localizadas nestas áreas. Para os edifícios existentes, proteção contra as inundações significa manter a água fora da propriedade - o que na Zurich designamos por resistência a inundações -, ou no caso de a água entrar na propriedade, significa minimizar os danos e acelerar o tempo de recuperação, o que designamos por resiliência a inundações.
Se olharmos para trás, vemos que o clima sempre sofreu alterações, mas nos dias de hoje é o ritmo atual dessas alterações que suscita preocupações. E os efeitos a longo prazo ainda agravam mais o problema. O «ajustamento glaciar», por exemplo, está fazer com que o sul de Inglaterra se afunde lentamente, ao passo que a Escócia está a ser empurrada para cima, como se toda a Grã-Bretanha fosse um baloiço.
Podemos não estar prestes a ver todas as zonas costeiras da Europa a afundarem-se debaixo de água durante a nossa existência, mas à medida que a frequência das cheias continua a aumentar, vamos ver certamente cada vez mais casas, empresas e comunidades submersas por breves períodos de tempo. Mesmo as zonas do interior podem estar em risco de sofrer inundações, que são exacerbadas pelas alterações climáticas. Nunca houve um momento melhor do que este para diminuir a nossa pegada de carbono e, assim, contribuir para travar as alterações climáticas.