A sua bebida preferida vai sobreviver às alterações climáticas?

Sustentabilidade | Artigo | 13 de outubro de 2020

Cerveja, vinho, Margarita, Long Island iced tea e café são algumas das bebidas impactadas pelas alterações climáticas.

Quando pensamos em alterações climáticas é fácil associá-las a todos os danos que temos vindo a causar ao planeta - aquecimento global, degelo das calotas polares, diminuição dos glaciares, subida dos níveis do mar, aumento das ondas de calor e aumento da frequência de eventos climáticos extremos. Mas as alterações climáticas não dizem respeito apenas ao planeta, dizem respeito a todos nós.

As alterações climáticas vão causar enormes perturbações naquilo que atualmente tomamos como garantido e é muito provável que uma das primeiras “vítimas” sejam as bebidas que ingerimos. Todas, desde as latas de bebida ao café, vão ser afetadas pelas alterações climáticas. Qual é a sua cerveja preferida? E o vinho? E o cocktail? O sabor que tanto aprecia nestas bebidas pode não continuar igual nos próximos anos.

As alterações climáticas já estão a afetar a produção de lúpulo, planta usada na produção de cerveja e as vinhas. O aumento da temperatura do planeta e a crescente escassez de água podem tornar mais difícil a produção de todas as suas bebidas preferidas. A cerveja é feita de água, malte de cevada e lúpulo e estes três ingredientes vão ser afetados pelas alterações climáticas. Com temperaturas mais elevadas, solos mais áridos e maiores secas, a produção de lúpulo e de cevada pode diminuir. O fabrico de cerveja requer igualmente água, que também será afetada por problemas de escassez devido às temperaturas mais elevadas do planeta. Por isso, poderá vir a ser necessário estabelecer prioridades naquilo que produzimos.

Mas não é só a cerveja que se encontra ameaçada pelas alterações climáticas. As bebidas espirituosas usadas para preparar os cocktails também estão em risco. A tequila, componente essencial da Margarita e do Long Island iced tea, pode desaparecer devido à perda da biodiversidade. O agave, planta suculenta utilizada para o fabrico da tequila, é polinizada pelo morcego-de-nariz-comprido, que é também quem espalha as suas sementes. Os morcegos desta espécie, que se encontravam em risco de extinção, já foram retirados da lista de espécies em risco de extinção nos EUA em 2018, o que devolve alguma esperança aos apreciadores de Margarita.

O sabor do vinho depende de diferentes fatores que afetam as uvas e as alterações climáticas estão a modificar muitos destes fatores: o solo, a temperatura e a altitude. A probabilidade de que, daqui a uma década, o seu vinho francês preferido tenha exatamente o mesmo sabor que tem hoje, está a diminuir. Os produtores de vinho europeus já estão a viver os impactos das alterações climáticas e tiveram de adaptar a forma como produzem o vinho. A época das vindimas para os vinhos brancos e tintos sofreu várias alterações nos últimos anos. Verões muito secos reduzem o volume das colheitas e se as uvas apanham mais sol e mais calor, começam a ficar mais adocicadas. Mais açúcar nas uvas significa um nível de álcool mais elevado e menos acidez, o que torna os vinhos mais pesados e com sabor diferente do que estamos habituados.

O aumento da temperatura pode também reduzir a área adequada para o cultivo de café até 50% em 2050. Alguns produtores de café já estão a substituir as suas culturas por outras menos vulneráveis ao aumento das temperaturas, o que levou alguns especialistas a prever uma escassez de café no futuro.

A escassez de água constitui uma das maiores ameaças ao que bebemos atualmente e vai afetar seriamente a quantidade de bebidas que teremos capacidade para produzir. O aumento da frequência de eventos climáticos extremos que temos vindo a assistir, como inundações ou secas, também atingiu os recursos hídricos. Podemos considerar as bebidas alcoólicas importantes, mas quando a água se tornar escassa, será que vamos realmente querer usar as últimas gotas de água para produzir bebidas alcoólicas?

Os eventos climáticos extremos, como incêndios e furacões, também representam uma ameaça à distribuição das nossas bebidas favoritas. À medida que estes eventos se tornam mais frequentes, as cadeias de abastecimento usadas para transportar as bebidas alcoólicas pelo planeta também se podem tornar mais vulneráveis e enfrentar quebras.

Se não agirmos agora para reduzir as emissões de carbono, limitar o aquecimento global e combater as causas das alterações climáticas, dificilmente vamos continuar a consumir as mesmas bebidas, nas mesmas quantidades de hoje ou esperar que tenham o mesmo sabor. Enfrentar as alterações climáticas não significa apenas salvar o planeta de forma figurada, significa também, em parte, termos a capacidade de salvar as nossas bebidas preferidas.