Biodiversidade: um tesouro global por restaurar

Sustentabilidade | Artigo | 16 de maio de 2022

Sabia que mais de 75% das culturas alimentares globais, onde se incluem frutas, vegetais ou café, dependem da polinização animal? Raquel Gorjão, Técnica de Comunicação da Zurich Portugal, convida-nos a refletir sobre a importância da biodiversidade.

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Imagine que o café que bebe de manhã está em risco devido à perda de biodiversidade. A conclusão é de um estudo publicado na revista científica Science Advances, que revela que pelo menos 60% das 124 espécies de café selvagem do mundo estão em vias de extinção.

Comecemos pelo princípio. São as interações entre cada organismo – desde os mamíferos até aos organismos unicelulares microscópios – que criam os ecossistemas naturais. Ora, estes ecossistemas naturais é que tornam o planeta habitável.

Os organismos desempenham, cada qual, o seu papel no ecossistema, o que significa que são interdependentes. As árvores dependem dos pássaros, que comem os seus frutos e espalham as sementes. As bactérias do solo decompõem as plantas mortas e a matéria animal. E os nutrientes que daí são extraídos alimentam outras plantas. Quando se perde – literalmente – uma parte deste sistema, o ecossistema torna-se menos resiliente e mais vulnerável a outros fatores externos, como as alterações climáticas. A vida humana, animal e natural depende da biodiversidade.

A Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre a Biodiversidade e Serviços dos Ecossistemas adianta, por exemplo, que mais de 75% das culturas alimentares globais, onde se incluem frutas, vegetais ou café, dependem da polinização animal. Mas é aqui que o problema reside. A biodiversidade está ameaçada em todo o mundo. E quando a biodiversidade de um ecossistema se reduz – ou se chega a perder – este deixa de funcionar de forma eficiente e os indivíduos ou organizações que dele dependem são fortemente impactados.

A Organização das Nações Unidas (ONU) já advertiu que um milhão de espécies, de um total aproximado das oito milhões que existem no mundo, se encontram em perigo de extinção.

Na Índia, o habitat da maioria dos tigres ao nível global, morreram 126 tigres ameaçados de extinção em 2021. E este é o número mais elevado desde que há registos. As alterações climáticas têm parte da responsabilidade: o aumento da temperatura global do planeta está a alterar os habitats e alguns animais não conseguem adaptar-se. E, depois, começa a luta pela sobrevivência: quando os organismos não podem sobreviver num habitat, os outros seres vivos que dependem deles lutam entre si para subsistir.

No Alasca, a pesca excessiva de paloco – peixe que pertence à família do bacalhau – levou à redução de leões-marinhos, cuja principal fonte de alimento é o paloco. As orcas, que se alimentam de leões-marinhos, começaram a caçar lontras-marinhas, que, por sua vez, se alimentam de ouriços-do-mar. O aumento de ouriços-do-mar causou a extinção das algas marinhas, que absorvem mais carbono do que aquele que é libertado na atmosfera.

Também as doenças zoonóticas – doenças que passam de animais para seres humanos – têm maior probabilidade de surgir à medida que os animais são forçados a sair dos seus habitats naturais, transportando as suas doenças para junto das populações. Ainda não está cientificamente comprovado, mas a COVID-19 – vírus originalmente encontrado em animais – pode vir a ser um exemplo de como este impacto se faz sentir ao nível global.

O que é certo é que urge unir esforços. Governos, organizações e comunidades devem adotar medidas para aumentar a resiliência aos riscos associados à perda de biodiversidade, garantindo que os seus processos de produção são sustentáveis e defendem os ecossistemas.

Já cada um de nós pode adotar práticas de consumo mais conscientes. Reciclar, utilizar produtos de limpeza ecológicos ou reduzir o uso de pesticidas e fertilizantes prejudiciais no nosso jardim são pequenos hábitos que fazem a diferença. A convivência harmoniosa num planeta que não é só nosso é possível. As nossas ações podem ajudar a restaurar a biodiversidade e a definir o futuro. Do planeta. Dos habitats. E dos nossos netos.

 

Faça parte desta mudança

Pequenas alterações na sua rotina podem fazer uma grande diferença para reduzir o impacto da nossa ação nos ecossistemas. Seja o agente de mudança que o planeta precisa e proteja o que é nosso.