Apoio aos refugiados: conheça a história de Susana Cortez

Sustentabilidade | Artigo | 15 de julho de 2022

Susana Cortez, Gestora de Sinistros na Zurich, viajou até à fronteira entre a Polónia e a Ucrânia para ajudar quem pôde. No regresso a Portugal, trouxe consigo nove mulheres, dois gatos e um cão. Conheça a sua história nesta entrevista.

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Como decidiu que queria ajudar as vítimas da guerra?

No início não tinha a perceção da gravidade da situação, mas com o passar dos dias comecei a perceber o que se estava a passar e o horror que seria para aquelas pessoas. Passados 15 dias do início do conflito, surgiu uma forte vontade de ajudar.

Antes de se deslocar até à Polónia, já tinha contribuído de alguma forma para ajudar as vítimas deste conflito?

Sim, já tinha feito alguns donativos de bens alimentares e vestuário na minha área de residência, através da escola e centro comunitário da zona onde vivo.

A decisão em deslocar-se até à Polónia foi imediata ou teve alguma ponderação?

A decisão foi quase imediata, um impulso que não consigo explicar. Só sabia que tinha de ir, foi um chamamento forte e intenso que não podia ignorar.

Qual foi o feedback que recebeu da Zurich quando anunciou a sua decisão?

Comuniquei à Zurich cerca de uma semana antes da data prevista para a partida. O apoio não podia ter sido melhor: a principal preocupação da Zurich foi sempre a minha segurança. Depositaram uma grande confiança e orgulho na minha missão. Senti-me apoiada pela nossa equipa de Recursos Humanos e pela Missão Azul e Z Zurich Foundation, que tudo fizeram para me apoiar e tratar das questões burocráticas.

Como foi o processo de preparação da viagem?

Foram dias muito desafiantes. Conseguir juntar o maior número de bens possíveis para poder levar, alugar as carrinhas e angariar o valor necessário para a viagem, foi um desafio. Toda a organização da viagem como o percurso, horas de estrada e horas de descanso, foi pensado previamente para tudo correr bem.

Que desafios encontrou durante e o que lhe surpreendeu durante a viagem de ida?

A viagem de ida foi em torno de uma grande expectativa, pensamento positivo e alegria, mas sempre com o foco no principal objetivo, que era conseguir trazer pessoas e também levar-lhes alguma esperança e alegria. Fiquei surpreendida pela generosidade humana, pelas dezenas de pessoas que, tal como nós, se deslocaram somente para ajudar, nada mais!

Quais foram os maiores desafios na chegada ao local?

Na viagem de ida não houve nenhum percalço, tudo correu com normalidade. Quer na fronteira de Medika, quer em Lviv não tivemos quaisquer problemas, somente o choque com a realidade dos refugiados. Nos dois centros de refugiados que estivemos, deparamo-nos com alguma falta de organização, e na facilidade que existia em trazer pessoas.

Em que situação se encontravam as pessoas que trouxe consigo para Portugal?

Todas elas estavam emocionalmente frágeis porque deixaram familiares para trás, mas com muita vontade de sair do centro de refugiados. Tinham a roupa do corpo, uns tróleis com alguma roupa e algumas lembranças como fotografias.

Como foi o regresso a Portugal?

Foi muito cansativo, física e mentalmente. A responsabilidade de trazer nove pessoas e de confortá-las de alguma maneira não foi fácil. Vieram apreensivas e com algum medo do desconhecido. Ganhar a confiança delas foi também um processo durante toda a viagem - éramos desconhecidos e elas tiveram de confiar em nós. A entrada na fronteira em Portugal foi o ponto alto desta viagem. Brindámos com champanhe e todos chorámos com a emoção.

Que entidades acolheram as mulheres que viajaram consigo?

Começámos por contactar a Câmara Municipal de Cascais, que desde logo nos ajudou com alojamento e alimentação totalmente gratuitos durante o primeiro mês. Tem mantido contacto regular com as pessoas que trouxe para Portugal? Sim, criámos um grupo no WhatsApp para podermos comunicar. Mantemos contacto até hoje e vou visitá-las regularmente.

Estas pessoas tencionam eventualmente voltar à Ucrânia ou Portugal tem sido uma ‘boa surpresa’?

Apesar de se sentirem seguras em Portugal, anseiam por voltar à Ucrânia. Todas elas deixaram a sua vida e família para trás. Quando for possível regressarem, certamente irão fazê-lo. Nenhuma delas tinha visto o mar e por sorte o sítio onde ficaram no primeiro mês era mesmo em frente ao mar.

Voltaria a aventurar-se por esta Europa fora para ajudar mais famílias? Que lição retira desta aventura?

Sem dúvida que sim. Por vezes é difícil explicar o sentimento que temos quando ajudamos alguém sem qualquer tipo de interesse, somente por ajudar o próximo. A maior lição que tirei é de que nada é impossível. Basta acreditar! Estou completamente certa disso.

 

O contributo da Zurich

Após o despoletar do atual conflito geopolítico, a Z Zurich Foundation (ZZF) lançou uma campanha de angariação de fundos que decorreu em março de 2022 e juntou mais de dois milhões de francos suíços – o equivalente a mais de 1,9 milhões de euros –, posteriormente entregues a três organizações internacionais: o Comité Internacional de Resgate, o Comité Internacional da Cruz Vermelha e a Save the Children International. Foi o mais elevado montante angariado nos 49 anos de existência da ZZF. À componente financeira juntou-se ainda o lado humano da Zurich – nos dois primeiros meses do conflito, mais de 100 Colaboradores do Grupo Zurich e familiares diretos receberam 275 refugiados ucranianos nas suas casas.

A ação solidária decorreu também em Portugal, através de uma angariação de bens para o movimento SOS Ucrânia. Em apenas quatro dias úteis, Colaboradores e Parceiros de Negócio da Zurich encheram três carrinhas com peso bruto de cerca de seis toneladas de medicamentos, vestuário e alimentos. Em junho, o Grupo Zurich enviou um comboio com 207 toneladas de alimentos essenciais - incluindo óleo, massas, arroz, comida de bebé, carne enlatada e leite de longa duração – para a segunda maior cidade da Ucrânia, Kharkiv.

Leia também a história incrível da viagem da Susana, que conduziu por mais de 3.500 quilómetros até à fronteira entre a Polónia e a Ucrânia com donativos e com o objetivo de trazer consigo, em segurança, refugiadas para Portugal - Missão a Medika.