Global Risks Report 2022: os 4 principais riscos que vão marcar o futuro

Riscos e ResiliênciaArtigo4 de julho de 2022

Pode parecer que o Global Risks Report 2022 apresenta perspetivas pouco otimistas sobre os riscos que o mundo enfrenta a curto e médio prazo, mas existem muitas medidas que cidadãos e empresas podem levar a cabo para os mitigar. Conheça as principais conclusões do relatório e alguns dos bons exemplos que podem ser replicados.

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A divulgação do Global Risks Report do Fórum Económico Mundial (FEM) é, ano após ano, um dos momentos mais marcantes na área da gestão de risco.

Na 17.ª edição do relatório, são identificadas quatro áreas de riscos emergentes: transição climática desordenada, cibersegurança, pressões migratórias e competição espacial. O Fórum Económico Mundial, o Grupo Zurich, a Marsh McLennan e o SK Group – os autores do documento – incentivam, por isso, os líderes a pensar além do ciclo de relatórios trimestrais e a criar políticas de gestão de risco, moldando a sua agenda para os próximos anos aos desafios nestas quatro áreas.

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Eis quatro principais riscos identificados pelo Global Risks Report:

1. Transição climática desordenada

O fracasso da ação climática foi identificado pelos líderes inquiridos como a ameaça mais relevante a longo prazo, ao nível global, e aquela que poderá ter um impacto mais acentuado na próxima década.

Longe de ser um problema novo, a verdade é que os riscos ambientais são cada vez menos uma ameaça longínqua e cada vez mais um problema que afeta a vida dos cidadãos. Nos últimos anos, várias cidades do mundo registaram temperaturas extremas, como um recorde de 47,4 graus Celsius em Córdoba, Espanha, ou uma temperatura mínima de -19 graus Celsius em Dallas, nos Estados Unidos da América, a mais baixa em 72 anos.

Para Peter Giger, Group Chief Risk Officer do Grupo Zurich, a crise climática continua a ser a maior ameaça que a humanidade enfrenta a longo prazo. “Falhar no combate às alterações climáticas pode diminuir em um sexto o Produto Interno Bruto (PIB) mundial. E os compromissos estabelecidos na COP26 continuam a não ser suficientes para atingir o objetivo de limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus Celsius”, alerta.

Precisamente por não ser demasiado tarde, é importante que cidadãos e empresas não se limitem a esperar pela ação dos governos e assumam ações concretas de combate às alterações climáticas.

Aliás, os dados parecem indicar que as empresas têm muito a ganhar ao tornarem-se mais sustentáveis: um estudo realizado em 2021 pelo IBM Institute for Business Value indicou que 71% das pessoas que procuravam emprego consideravam que as empresas sustentáveis eram “mais atrativas”. No mesmo estudo, quase metade dos inquiridos afirmou estar disposta a aceitar um salário inferior para trabalhar numa organização genuinamente empenhada em salvar o planeta.

Como adotar medidas práticas para aumentar a sustentabilidade ambiental das empresas e dos seus colaboradores?

Uma das áreas de intervenção mais importantes está relacionada com as deslocações: os transportes são responsáveis por cerca de 16% das emissões mundiais de gases de efeito estufa e os movimentos pendulares de casa para o trabalho, e vice-versa, correspondem a cerca de 20% da distância total percorrida pela população em cada ano.

A utilização de veículos elétricos pode ser uma forma de reduzir as emissões e é uma opção cada vez mais comum: em 2010, por exemplo, circulavam apenas 17 mil carros elétricos em todo o mundo e, hoje, são mais de 10 milhões. Além de apostar na substituição da frota automóvel, as empresas podem, por exemplo, instalar postos para o carregamento destes veículos, de modo a incentivar os colaboradores a optar por esta alternativa.

A partilha de automóveis entre colaboradores com horários idênticos e trajetos similares – o chamado “carpooling” – é outra prática que pode ser incentivada e facilitada pelas empresas. Isto para não falar da opção mais óbvia: os transportes públicos. Conseguir ter os escritórios em áreas centrais, cobertas pela rede de transportes públicos local ou, no limite, não dispor de lugares de estacionamento podem ser medidas amigas do ambiente. O mesmo com o incentivo à utilização de bicicleta, meio cada vez mais comum em Portugal e que pode ser estimulado, por exemplo, através da disponibilização de espaços seguros onde os colaboradores possam guardar o veículo ou de balneários com condições para se refrescarem antes de começarem a trabalhar.

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Manter um regime flexível de trabalho, como o modelo híbrido ou o trabalho a partir de casa, é outra forma de reduzir as deslocações dos colaboradores. De acordo com uma análise feita pela Agência Internacional de Energia, se todas as pessoas que podem trabalhar a partir de casa, em todo o mundo, o fizessem apenas um dia por semana, seria possível reduzir em 1% o consumo anual de petróleo no transporte rodoviário de passageiros.

Além de incentivar os colaboradores a repensarem os seus pequenos hábitos, as empresas podem também motivá-los a pensar nos grandes, ou seja, em projetos de maior escala e de grande impacto. O Grupo Zurich, por exemplo, criou o Zurich Forest, um projeto ambiental no Brasil, em colaboração com o Instituto Terra, através do qual estão a ser plantadas, ao longo de oito anos, um milhão de árvores de 120 espécies nativas, com o intuito de restaurar a floresta e os ecossistemas da Mata Atlântica, na região de Minas Gerais, no Brasil.

2. Cibersegurança: a defesa do inimigo invisível

A cibersegurança é outra das áreas críticas identificadas no Global Risks Report 2022. A crescente dependência de sistemas digitais alterou as sociedades – e este processo de digitalização, acelerado pela pandemia, foi muito rápido e, em alguns casos, pouco planeado.

Em 2020, os ataques de malware – software que visa invadir, danificar ou incapacitar computadores – e de ransomware – semelhante ao malware, mas envolvendo um pedido de resgate para que o computador ou sistema informático seja desbloqueado – aumentaram 358 e 435%, respetivamente, de acordo com um relatório da empresa israelita de cibersegurança Deep Instinct.

Em Portugal, os primeiros meses de 2022 foram marcados por notícias de diversas empresas e meios de comunicação social a sofrer ataques cibernéticos, deixando a nu como, em muitos casos, os métodos de agressão são cada vez mais incisivos.

Também no contexto da invasão da Ucrânia por parte da Rússia, foram noticiados diversos ciberataques em ambos os países, deixando claro que esta é mais uma componente fulcral dos conflitos contemporâneos.

3. Pressões migratórias

A mistura explosiva de dificuldades económicas, instabilidade política e alterações climáticas tem forçado milhões de pessoas a deixarem as suas casas em busca de um futuro melhor noutro país. A migração involuntária é uma das principais preocupações de longo prazo dos inquiridos no Global Risks Report 2022: 60% dos quais consideram que os esforços internacionais para mitigar este problema ainda não começaram ou estão em desenvolvimento inicial.

O ano de 2020 registou o recorde histórico de 34 milhões de pessoas deslocadas em todo o mundo. E 2022 também promete ser um ano complicado a este nível, com a Organização das Nações Unidas a estimar que a invasão da Ucrânia resulte em 10 a 12 milhões de refugiados.

Além disso, em muitos países, os efeitos da pandemia e o aumento do protecionismo económico estão a resultar em maiores barreiras à entrada de migrantes que buscam oportunidades para uma vida melhor. Consequentemente, estas dificuldades traduzem-se numa diminuição do envio de remessas para os países de origem, que constituem uma “tábua de salvação” para muitas famílias.

Ao mesmo tempo, nos países desenvolvidos, escasseiam os recursos humanos em diversas áreas: no início de 2022, havia 11 milhões de vagas de emprego por preencher nos Estados Unidos da América e faltavam, por exemplo, 400 mil motoristas na União Europeia.

Outro tema central no Global Risks Report 2022 são as perspetivas sobre resiliência no seguimento dos anos de pandemia. A este propósito, também as empresas podem desempenhar um papel importante. “Reconhecendo que uma melhor preparação ao nível nacional é fundamental para o planeamento, o investimento e a execução das suas estratégias, as empresas podem alavancar oportunidades em áreas como cadeias de fornecimento, códigos de conduta no seu setor e inclusão de dimensões de resiliência na oferta de benefícios à sua força de trabalho”, refere o relatório.

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4. Competição espacial

Apesar de o espaço ser explorado há décadas, os últimos anos testemunharam um aumento significativo da atividade neste âmbito, criando novas oportunidades, mas também riscos crescentes.

A entrada de novos intervenientes no mercado de satélites comerciais está a provocar uma disrupção na influência dos operadores tradicionais, trazendo maior potencial para a geração de atritos. Para isto contribui o facto de a regulação espacial ter sido sempre limitada e estar desatualizada, bem como as divergências políticas que têm impedido o fortalecimento de regras globais.

Uma consequência desta aceleração da atividade espacial é o maior risco de colisões, que podem levar a uma proliferação de detritos espaciais e a problemas nas órbitas onde estão alojadas infraestruturas essenciais. O aumento da atividade no espaço também pode provocar impactos ambientais desconhecidos ou aumentar os custos de bens públicos, como a monitorização do estado do tempo ou a monitorização das alterações climáticas.

Perante as incertezas do futuro, transformar os problemas em oportunidades é precisamente o convite que o Global Risks Report 2022 faz a todos: cidadãos, empresas, comunidades locais ou governos. Cabe-nos aceitar o desafio.